O enredo da Acadêmicos do Grande Rio em 2022 vai falar sobre as distintas facetas do orixá Exu. Com o título “Fala, Majeté! As sete chaves de Exu”, a narrativa de Leonardo Bora e Gabriel Haddad tem como um dos fios condutores Estamira, uma trabalhadora do lixão de Gramacho, localizado em Duque de Caxias, mesma cidade da escola de samba.
Estamira reafirma o interesse da dupla de carnavalescos pelo inconsciente e o que a sociedade compreende como “loucura”. Falecida em 2011, a catadora inspirou um documentário de Marcos Prado, no qual aparece usando um telefone velho para se comunicar com um importante interlocutor: “Câmbio, Exu. Fala, Majeté!”, evocava ela, que será apresentada pela Grande Rio como uma pensadora, uma filósofa.
Em 2018, na Acadêmicos do Cubango, Bora e Haddad abordaram a trajetória de Arthur Bispo do Rosário no enredo “O rei que bordou o mundo”. Depois de afirmar a religiosos do Mosteiro de São Bento que era um enviado de Deus, o ex-marinheiro foi encaminhado para o hospício e permaneceu na Colônia Juliano Moreira por mais de 50 anos.
Internado, começou a produzir arte a partir de objetos considerados descartáveis – e a relação com os ciclos de lixo é outra reincidência nos enredos da dupla da Grande Rio. Bispo, cujo processo criativo driblou a violência das instituições manicomiais, teve sua obra comparada com a do francês Marcel Duchamp e hoje é uma referência na arte contemporânea brasileira.
Em 2020, já à frente do barracão Grande Rio, Bora e Haddad falaram sobre o pai de santo Joãosinho da Gomeia. O início do desfile abordou as visões que ele tinha na infância, que chegaram a ser tratadas de forma preconceituosa.
Quando o desfile das escolas de samba se debruça sobre personagens e artistas que receberam a alcunha de “loucos” pelo pensamento hegemônico, de alguma forma também fala sobre si mesmo, e sobre o fato de ainda não ser plenamente reconhecido como uma contra-narrativa na produção artística brasileira.
Ouça o samba da Grande Rio para o Carnaval 2022:
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