“(…) nosso povo cantar sobre coisas de afeto”: este foi o desejo, descrito em sinopse, do carnavalesco João Vitor Araújo ao escolher o enredo que a Acadêmicos da Cubango em seu próximo desfile. Este povo, que já cantou Luis Gama, Bispo do Rosário e Mercedes Baptista, cantará neste ano Francisca Xavier Queiroz de Jesus. Ou, dizendo de modo mais claro e afetivo, “Dona” Chica Xavier (1932-2020).
Um dos grandes nomes da teledramaturgia brasileira, Chica deu corpo, sentido e voz a muitas personagens. Para termos uma pequena noção, seu currículo é composto de novelas como “Saramandaia” (1976), “O rei do gado” (1996) e “Esperança” (2003), além de filmes como “O assalto ao trem pagador” (1962) e séries como “Tenda dos milagres” (1985). A sua importância para a arte de representar é inquestionável, mas o legado de Chica vai muito além.
Em 2010, ela ganhou o Troféu Palmares do então Ministério da Cultura pelo seu trabalho de preservação e incentivo à cultura afro-brasileira. Chica foi e é amor – e assim é descrita pela frase “O amor preto cura” no enredo da Cubango: casada por mais de 60 anos com o também ator Clementino Kelé, com quem teve três filhos e três netos, a atriz também foi um pilar de religiosidade. Ialorixá na Irmandade do Cercado de Boiadeiro, em Sepetiba, e integrante da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Salvador, compôs inúmeros canções de inspiração religiosa e ligadas aos povos da diáspora.
Ao levar Chica para a avenida, João Vitor também está levando a si mesmo, já que é um dos raros carnavalescos negros do carnaval carioca; leva Patrícia Cunha, uma das raras presidentes negras de escola de samba; leva a comunidade da Cubango, agremiação que, pela sua trajetória e suas narrativas, é um grande quilombo de resistência.
O “é” da existência e do amor de Chica vai se multiplicar em vários “são” na avenida.
Ouça o samba da Cubango para o Carnaval 2022:
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