A homenagem da São Clemente ao ator Paulo Gustavo, morto no ano passado em decorrência da Covid-19, não se refletiu num bom desfile. E as razões são muitas. A sinopse do enredo propunha uma “festa no céu” para receber o humorista, apostando num tom de leveza que talvez não fosse possível diante de perda tão recente.

O carro abre-alas, com uma pegada kitsch, já sinalizava para esse grande encontro da comédia brasileira, no qual Paulo Gustavo seria o recém-chegado. A alegoria, representando um paraíso em quase tudo distinto da iconografia cristã, trazia nuvens prateadas e um grande arco-íris – referência a outra faceta do enredo: a luta do ator pela causa LGBT+. Na parte mais alta, uma escultura do homenageado com asas de anjo.
Em alguns momentos, houve acertos. Foi o caso do segundo carro, que emulava um set de gravação. Nas laterais, eram encenadas em tempo real diferentes cenas do filme Minha mãe é uma peça. Uma boa sacada do carnavalesco Tiago Martins.

Mas, no geral, a escola pecou no desenvolvimento da narrativa. Faltou liga entre os diferentes setores e a premissa lúdica da sinopse não se concretizou na Avenida, com raras exceções.
O canto também oscilou, com diferenças acentuadas de ala para ala. Além disso, o quesito evolução foi prejudicado pelos problemas em vários carros. Em alguns momentos a escola parava; em outros, precisava correr.
Era mesmo um grande desafio tratar com irreverência a vida de um artista que nos deixou há tão pouco, cuja morte precoce ainda reverbera na memória. Embora bem intencionada, a proposta da São Clemente, infelizmente, não funcionou.
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Escritor e jornalista. Autor dos livros "A lua na caixa d'água" (Malê, 2021), "Rua de dentro" (Record, 2020) e "Ferrugem"(Record, 2017), entre outros.
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Escritor e jornalista. Autor dos livros "A lua na caixa d'água" (Malê, 2021), "Rua de dentro" (Record, 2020) e "Ferrugem"(Record, 2017), entre outros.

